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Vivemos tempos em que o silêncio interior tornou-se um artigo de luxo. A mente jovem, que antes encontrava pausas na espera, no tédio ou na contemplação, hoje é constantemente atravessada por notificações, metas irreais e a urgência por uma performance emocional que beira o insustentável. Cresce, nesse contexto, uma geração marcada não por falta de acesso à informação, mas por uma sobrecarga dela — e, mais preocupante ainda, por uma profunda inabilidade em lidar com o que sente. É nesse ponto que a educação socioemocional deixa de ser uma proposta inovadora para se tornar uma urgência pedagógica.

O discurso sobre saúde mental, embora cada vez mais presente, ainda tropeça em práticas escolares que valorizam o cognitivo em detrimento do afetivo. Muitos jovens sabem resolver equações complexas, mas não sabem nomear a própria frustração. Leem grandes romances, mas não identificam que o que sentem é, talvez, um início de depressão. E a escola, por vezes, se perde num ideal de neutralidade que a impede de intervir — como se ensinar a reconhecer e a regular emoções fosse um desvio da “missão acadêmica”. No entanto, educar nunca foi apenas transmitir conteúdos; sempre foi, antes de tudo, formar sujeitos.

A ansiedade, nesse cenário, não é um fenômeno isolado. É uma manifestação concreta da falta de estrutura emocional para lidar com um mundo em colapso de estímulos. Dados recentes da OMS apontam que o Brasil lidera os índices de transtornos de ansiedade entre jovens na América Latina. Isso não é apenas uma estatística preocupante — é um espelho do que se passa dentro das escolas, das famílias, das redes sociais. Ignorar esse dado é abdicar do papel transformador que a educação pode ter na vida desses estudantes.

Educar socioemocionalmente não é dar aula de “autoajuda” ou transformar o professor em terapeuta — é criar espaços em que o aluno possa compreender, expressar e lidar com o que sente. É ensinar que medo e raiva são emoções legítimas, mas que precisam de canalizações saudáveis. É acolher sem superproteger, escutar sem julgar, orientar sem infantilizar. Há exemplos práticos disso em escolas que já incorporam rodas de conversa, diários reflexivos, mediação de conflitos e projetos interdisciplinares voltados ao autoconhecimento e à empatia. Nada disso exige grandes reformas estruturais — apenas a decisão política e pedagógica de priorizar o humano.

Pensadores como Edgar Morin já nos alertavam: a educação do futuro deve ensinar a condição humana. Em outras palavras, deve formar sujeitos capazes de pensar e de sentir, de raciocinar e de se relacionar. A fragmentação entre o que se aprende e o que se vive é uma das causas da apatia e da angústia que vemos em muitos estudantes. Eles não conseguem conectar o conhecimento à própria existência. E como poderiam, se suas dores emocionais são tratadas como desvios ou fraquezas?

É claro que isso exige do professor uma nova disposição: a de se reconhecer também como ser emocional em constante aprendizado. Ninguém ensina empatia sem exercê-la, tampouco ensina autorregulação sem viver algum grau de autoconhecimento. A formação docente, nesse sentido, precisa incluir mais do que teorias didáticas — precisa abraçar a dimensão ética e afetiva da prática educativa. A educação socioemocional, portanto, não é uma camada a ser adicionada ao currículo, mas uma lente por meio da qual todo currículo pode ser ressignificado.

Estamos diante de uma geração que não precisa apenas de mais conteúdo — precisa de mais sentido. E esse sentido não será encontrado em apostilas ou provas padronizadas, mas em relações que acolham, em ambientes que escutem, em escolas que não tenham medo de ensinar que sentir também é uma forma de aprender. A ansiedade pode ser um sintoma da época, mas o cuidado é uma escolha. E a educação, se quiser continuar sendo ponte entre o presente e o futuro, não pode se furtar ao desafio de ensinar a viver.

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