Anúncios
Anúncios

Ser professor, hoje, exige mais do que domínio de conteúdo e habilidade didática. Exige presença. Uma presença que não se impõe pelo saber, mas que se estabelece pela escuta, pelo respeito à singularidade dos alunos e pelo compromisso com o humano que há por trás de cada matrícula, de cada boletim, de cada silêncio. Em tempos de acelerada virtualização da vida, em que muitos jovens carregam nos ombros pesos invisíveis — oriundos de famílias desfeitas, de redes sociais tóxicas, de um mundo que os exige adultos antes do tempo —, o professor que acolhe torna-se quase um gesto de resistência pedagógica.

Não se trata, é preciso dizer, de um acolhimento piegas ou ingênuo, como aquele que confunde empatia com permissividade. Acolher não é fazer vista grossa, não é fingir que tudo vai bem, tampouco é assumir para si o papel de salvador de almas. Acolher é reconhecer, com inteireza, que o aluno é alguém em processo. É perceber que, por trás da indisciplina, pode haver uma carência afetiva. Que a apatia de quem se recusa a participar pode ser o traço visível de uma depressão. Que o excesso de agressividade é, muitas vezes, um pedido desesperado de atenção. Isso não nos exime de ensinar, mas nos obriga a ensinar com humanidade.

O professor que respeita seus alunos não os julga pela régua da própria biografia. Sabe que não se educa apontando o dedo, mas estendendo a mão. Esse respeito se manifesta na forma como corrige um erro, como reage a uma crítica, como ouve uma dúvida — mesmo quando ela parece óbvia. Paulo Freire já nos alertava que ensinar exige coragem de escutar. E escutar, de fato, exige mais esforço do que falar. Porque quem escuta precisa suspender o próprio juízo e se colocar num lugar de curiosidade sincera.

Há, também, uma dimensão ética nesse processo. Quando um professor decide ser alguém que acolhe, ele não o faz apenas por afeto, mas por convicção política. Ele compreende que o espaço escolar é, ainda, um dos poucos territórios de reconstrução do social. Onde o aluno pode, talvez pela primeira vez, experimentar o que é ser visto sem medo, sem rótulo, sem riso de deboche. É na sala de aula — e não nas redes — que muitos adolescentes encontram um adulto que os trata com firmeza e doçura, que os reconhece pelo nome, que os desafia sem humilhar.

É claro que esse exercício tem seus limites. Nenhum professor é terapeuta, nenhum educador pode carregar sozinho as dores do mundo. Mas há um equilíbrio possível — e necessário — entre a entrega emocional e a sanidade profissional. Um professor que acolhe não é aquele que se anula pelo outro, mas aquele que se fortalece na relação com o outro. Ele entende que respeito não é submissão; é construção de vínculo.

E é esse vínculo, cultivado com paciência e autenticidade, que faz com que os alunos voltem. Voltem a tentar, voltem a sonhar, voltem a acreditar que a escola pode, sim, ser um lugar de transformação. Porque, no fim das contas, quem acolhe e respeita ensina muito mais do que conteúdo: ensina a viver.

Deixe um comentário

Tendência