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Existe uma tendência curiosa — e perigosamente comum — entre estudantes que se preparam para o Enem: estudar fórmulas, decorar datas, revisar redações modelo, mas ignorar o documento que rege toda a estrutura do exame. O Termo de Adesão ao Enem, publicado anualmente pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), costuma passar despercebido por quem, paradoxalmente, está tentando navegar com sucesso por um dos processos seletivos mais concorridos do país. É como um jogador de xadrez que conhece todos os movimentos, mas não sabe as regras da partida que está disputando.

Engana-se quem pensa que esse termo é apenas um texto burocrático, destinado às instituições. Ainda que seu público-alvo direto sejam as universidades e institutos federais, ele antecipa as condições e critérios que definirão o jogo: quem poderá usar a nota do Enem para o Sisu, quais cursos terão pesos específicos, como será calculado o desempenho mínimo em cada área. Trata-se de um documento que, lido com atenção, permite que o candidato alinhe sua estratégia de estudo com o que realmente importa — e não apenas com o que a tradição dos cursinhos costuma repetir mecanicamente.

Veja, por exemplo, um estudante que sonha com Medicina. Ele pode passar anos aprimorando a redação e se orgulhar de dominar os mecanismos coesivos como ninguém. Mas, ao ignorar que algumas instituições exigem, no mínimo, 700 pontos em cada área do conhecimento para concorrer a uma vaga, pode ver seu sonho desmoronar por uma nota “razoável” em Ciências da Natureza. Essa informação não aparece na prova, nem na apostila, nem no feed do influencer educacional — ela está lá, discreta e definitiva, no Termo de Adesão.

Há nisso uma ironia trágica: em um exame que tanto valoriza a interpretação de texto, muitos candidatos falham justamente por não interpretarem o texto que estrutura o próprio exame. É como se lessem o romance sem considerar o prefácio, onde o autor explica suas intenções. E isso diz muito sobre a nossa cultura educacional, ainda tão voltada para o conteúdo em si, mas pouco habituada a ler o que está nas entrelinhas — ou no edital.

Além disso, o Termo de Adesão ajuda a desmistificar uma falsa ideia de igualdade. Embora o Enem seja, em tese, o mesmo para todos, a forma como as universidades utilizam suas notas é diversa — e politicamente significativa. Algumas dão peso dobrado para Matemática, outras exigem nota mínima em Redação, algumas sequer aceitam inscrições em determinadas edições. Conhecer essas nuances é um ato de lucidez estratégica, não apenas uma precaução técnica. Afinal, como ensinava Sun Tzu, “vencer cem batalhas não é o auge da habilidade; vencer sem lutar é”. E, nesse caso, vencer pode ser também evitar o erro que elimina, que desclassifica, que tira do páreo quem estudou, mas não se informou.

Mais do que isso: ler o Termo de Adesão é um exercício de autonomia intelectual. É compreender que a preparação para o Enem não se faz apenas com simulados e revisões, mas com leitura crítica do sistema ao qual se está se submetendo. A informação, aqui, é mais do que poder — é estratégia de sobrevivência. E, como todo bom estrategista, o estudante que deseja estar entre os aprovados precisa conhecer o terreno em que pisa.

Por isso, antes de mais uma maratona de estudos, antes da próxima aula de revisão, reserve alguns minutos para ler o Termo de Adesão da universidade dos seus sonhos. Pode parecer um detalhe técnico, mas é ali que moram as condições do possível — ou, no mínimo, os atalhos para evitar o impossível. Porque, no final das contas, reprovar por ignorar um detalhe é mais frustrante do que errar por falta de conteúdo. E nesse jogo, quem lê com atenção começa com vantagem.

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