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Imagine a seguinte cena: um estudante sentado à mesa, a apostila aberta, o café esfriando ao lado. A prova está chegando e, em vez de absorver o conteúdo, ele sente o coração acelerado, as mãos suadas e a mente rodopiando em mil direções. A ansiedade, essa companheira indesejada, sequestrou seu cérebro no momento mais crucial. Mas o que poucos sabem é que a neurociência tem algo a dizer sobre isso – e mais do que isso, tem soluções.

Para entender a ansiedade pré-vestibular, precisamos falar sobre o sistema límbico, a parte do cérebro responsável pelas emoções. Quando nos sentimos ameaçados – e uma prova importante pode soar como uma ameaça real para o nosso futuro –, a amígdala cerebral dispara um alerta. O problema é que essa estrutura não diferencia um leão prestes a atacar de uma redação do Enem. O corpo reage como se estivesse em perigo iminente: tensão muscular, aceleração dos batimentos cardíacos, dificuldade de concentração. A boa notícia? Assim como o cérebro aprende a temer, ele também pode aprender a recuperar o controle.

Um dos segredos está na respiração. Parece trivial, mas não é. A prática de respiração diafragmática reduz a atividade da amígdala e ativa o córtex pré-frontal, a região responsável pelo raciocínio lógico e pelo autocontrole. Em experimentos conduzidos por Andrew Huberman, neurocientista da Universidade de Stanford, descobriu-se que o simples ato de expirar por mais tempo do que inspirar – algo como inspirar em quatro tempos e expirar em seis – acalma o sistema nervoso e restabelece o foco.

Mas o domínio sobre a ansiedade não se resolve apenas com técnicas momentâneas. A preparação de longo prazo tem papel fundamental, e aqui entra um elemento-chave: o sono. Em uma sociedade que glorifica a privação de descanso como sinônimo de esforço, a neurociência nos diz o oposto. Durante o sono REM, consolidamos a memória e reorganizamos as informações absorvidas ao longo do dia. Um estudo da Harvard Medical School mostrou que estudantes que dormem bem antes de uma prova têm desempenho significativamente melhor do que aqueles que trocam o descanso por horas extras de estudo. Ou seja, revisar até tarde pode ser um tiro no pé.

Outro truque poderoso vem da prática da visualização. O psicólogo russo Lev Vygotsky já falava sobre a importância da imaginação no aprendizado, mas a neurociência moderna foi além: atletas de alto rendimento usam a visualização para ativar os mesmos circuitos cerebrais envolvidos na execução real de um movimento. O mesmo vale para os vestibulandos. Imaginar-se resolvendo uma questão difícil, estruturando um argumento de redação ou entrando na sala de prova com confiança prepara o cérebro para o momento real, reduzindo o impacto da ansiedade.

E, por fim, há a alimentação – um fator frequentemente negligenciado. O intestino é chamado de “segundo cérebro” por um motivo: 90% da serotonina, o neurotransmissor do bem-estar, é produzida ali. Alimentos ultraprocessados e ricos em açúcar aumentam a inflamação e afetam negativamente a capacidade cognitiva. Já uma dieta rica em ômega-3 (encontrado em peixes e oleaginosas), probióticos (presentes no iogurte e no kefir) e alimentos naturais favorece um estado mental mais equilibrado. Não é coincidência que grandes pensadores, como Hipócrates, já afirmavam que a alimentação é o primeiro remédio.

Ansiedade pré-vestibular não é um bicho-papão incontrolável. Pelo contrário, ela pode ser domada e até usada a favor do estudante. Quando entendemos como o cérebro funciona, ganhamos ferramentas para superar os desafios sem deixar que o medo nos paralise. E, assim, a prova deixa de ser um monstro no caminho e se transforma em um palco onde o conhecimento acumulado pode finalmente brilhar.

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