Nos últimos anos, por força da curiosidade tanto pessoal quanto profissional, dediquei-me a pesquisar e formular uma grade de aulas focada na preparação de meus alunos para o alto desempenho e para as exigências avaliativas da atualidade (quem nunca se pegou refletindo sobre essas coisas nas horas vagas… não me olhe com essa carinha de estranhamento! rsrsrs). No entanto, em meio às idas e vindas do “novo”, “novíssimo”, “novo de novo” e “mais novo ainda” Ensino Médio, esse trabalho se mostrou bem mais complexo do que esperava. E só teve bons frutos devido aos estudos e análises que realizei a partir das principais escolas brasileiras, além da consulta a inúmeros colegas do Espírito Santo e do restante do país que passaram pelas mesmas curiosidades e dificuldades que agora eu enfrentava.

Deste modo, ao assumir a Direção Pedagógica do Colégio Nova Geração, aproveitei a oportunidade para colocar em voga a grade curricular que anteriormente havia delineado, ainda que a adequando, em inúmeros pontos, às características da instituição que adentrava. Assim, cada decisão teve também de ser pensada para equilibrar tradição e inovação, mas sem perder o foco em resultados sólidos de aprendizagem e alto desempenho (parte do meu Santo Graal na educação). Logo, em fins de 2023, tive o privilégio de liderar um processo de revisão da grade curricular e do sistema de avaliações institucionais que entraria em vigor no colégio em 2024.

Para tanto, visando tornar a aprendizagem mais conectada às demandas contemporâneas e preparar os alunos, especialmente, para o Enem, incluímos disciplinas voltadas à formação integral. Além das matérias tradicionais, incluímos disciplinas como “Estudo Orientado”, com o intuito de retomar e reforçar práticas de autonomia estudantil prejudicadas durante o período de pandemia. Essa disciplina também funcionou como um alicerce para as novas práticas avaliativas empregues, ajudando os alunos a se adaptarem ao novo formato de ensino. Além disso, incorporamos disciplinas para além do famoso “Projeto de Vida”, como “Inteligência Emocional” e “Orientação Profissional”, visando preparar os alunos, em particular os concluintes do Ensino Médio, para os desafios que enfrentariam dali em diante.

Reestruturamos também o sistema de avaliações. Saímos de um modelo baseado exclusivamente em provas e trabalhos e introduzimos ferramentas que potencializam habilidades não contempladas em avaliações convencionais. Agora, as avaliações incluem simulados regulares que reproduzem o formato e o rigor do Enem, permitindo que os alunos pratiquem gestão de tempo, resolução de questões complexas e análise crítica. Esses simulados são acompanhados de feedbacks detalhados, o que ajuda a identificar áreas de melhoria e a planejar estudos de maneira mais eficiente. Ademais, todas as avaliações, desde o 6º ano do Ensino Fundamental 2, passaram a seguir um padrão claro e rígido de elaboração de questões, tendo por norteador o Exame Nacional do Ensino Médio.

Eliminamos as aulas de revisão e as notas abertas, para desespero de muitos alunos e até mesmo de alguns professores, mas nem tanto para os pais. Essas notas englobavam a resolução de listas de exercícios, participação em aulas e comportamento em sala. Suas supressões serviram para otimizar o tempo pedagógico e direcionar nossos alunos ao desenvolvimento de hábitos concernentes a um estudo contínuo. Com essa mudança, as provas e os simulados ainda foram transferidos para o contraturno, permitindo que as aulas regulares fossem integralmente dedicadas à construção de conteúdos e às práticas didáticas.

Com tudo isto, podemos afirmar que os alunos não são mais pegos de surpresa nos processos avaliativos por problemas referentes a uma possível despadronização das atividades. Conseguimos combater, por meio de formações e a implantação de processos focados, o que eu costumo criticar como sendo a “Torre de Babel” de muitas escolas, com cada professor utilizando seus próprios padrões, rigores e modelos para a aferição da aprendizagem. Hoje, em razão do uso de uma mesma “linguagem” avaliativa e da adoção de bimestres sempre constituídos por três notas (um simulado objetivo, uma prova com questões dissertativas e um trabalho), nossos alunos adquiriram plena consciência dos nossos objetivos pedagógicos e das razões por trás do uso de cada meio adotado para avaliá-los. Essa transparência promoveu maior engajamento e entendimento por parte dos estudantes, que passaram a perceber o propósito de cada atividade como parte de uma estratégia que visa ao seu pleno desenvolvimento acadêmico.

Também implantamos projetos interdisciplinares no lugar dos tradicionais trabalhos. Alguns deles já aplicava nas escolas pelas quais passei, como as simulações da ONU. Neste caso, a escolha por replicar este formato em Primavera do Leste–MT se deve não somente ao ineditismo da ação no município, como também pelo fato de que, ao colocarmos os estudantes para representarem países e debaterem questões globais, fazemos com que aprendam a argumentar de forma estruturada, trabalhar em equipe e desenvolver empatia por diferentes perspectivas, preparando-se para desafios que transcendem a sala de aula e evidenciam as nuances de um mundo cada vez mais interconectado. Ainda aproveitamos a oportunidade para desenvolver novos projetos, como os Seminários (calma, não é o que você está pensando). Nos Seminários, os alunos se dividem em grupos e apresentam um trabalho livre a partir de um tema específico, explorando suas criatividades e imaginação coletiva. Essa apresentação, similar a de uma “banca”, é avaliada em auditório, sendo alvo de sabatina por seus colegas e por um grupo de professores que não pertencem à área do assunto abordado, o que exige um esforço extra dos estudantes para tornar seus trabalhos compreensíveis para “leigos”.

Em contrapartida, mantivemos a feira de ciências, mas com um novo nome: “iNova Geração”. Tal mudança contempla nossa busca por fortalecer a identidade da escola e não, necessariamente, a identidade do Sistema de Ensino por nós utilizado. No mais, a feira, agora renovada e renomeada, continua sendo um dos momentos mais esperados do ano letivo, impressionando pela seriedade com que é conduzida por alunos e professores. O evento, que chegou a me surpreender como uma espécie de “megalomania pedagógica” para os padrões aos quais estava acostumado, torna patente o envolvimento de todos os participantes.

Enfim, todas essas mudanças tiveram por objetivo promover o aprendizado prático e interdisciplinar, estimulando a criatividade de nossos alunos, o trabalho em equipe e a capacidade de apresentar soluções inovadoras para problemas reais, fortalecendo o protagonismo estudantil. Assim, começamos a transformar a experiência educacional no Colégio Nova Geração, enaltecendo os ares dos novos tempos, como uma escola de projetos, mas que não deixa de lado a excelência acadêmica focada no alto desempenho. Ademais, desta forma, buscamos valorizar e dar real sentido ao nosso lema, tornando-o o norteador de nossas ações, considerando-se que “incentivamos nossos alunos a conquistarem o mundo”.

Entretanto, essas mudanças, que esboçam trazer bons resultados a curto prazo, também nos convidam à reflexão: como podemos, enquanto educadores, alinhar nossas práticas às necessidades do presente e às expectativas do futuro? Estamos preparados para romper com estruturas tradicionais e criar espaços de aprendizagem mais significativos? Acredito que o processo de transformação educacional é desafiador, mas absolutamente necessário e, parte dele passa, essencialmente, pela grade curricular que ofertamos e como avaliamos nossos alunos. No Colégio Nova Geração, estamos dando passos firmes rumo a esse futuro, e ficarei muito feliz em trocar ideias e experiências com quem também acredita nesse caminho.

E você? Que mudanças acredita que são necessárias na educação para transformar a próxima geração de estudantes?

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